Royal Dansk: o biscoito da lata azul bonita e a metalinguagem da linha abissal

Trindade, Karina de Souza

Resumo:

São Paulo, na década de 1970, recebeu um contingente aproximado de 2 milhões de migrantes (Cunha; Baeninger; Carmo; Antico, 2000), chegando à proporção de seis “forasteiros” a cada dez habitantes, muitos deles oriundos do nordeste do Brasil (Rolnik, 2013). Nesse fluxo migratório estavam dois baianos arretados: Altenor e Djalma, meus pais. Ambos vieram muito jovens para São Paulo, acreditando na possibilidade de melhores condições de vida. Após o casamento, “Seu Tena” e “Dona Date” fixaram residência em Embu das Artes, cidade localizada na Região Metropolitana de São Paulo, região que figura como a maior receptora “de migrantes do país e, ao mesmo tempo, a mais atingida pela reestruturação econômica, cuja atratividade se reduzia, uma vez que se tornavam cada vez mais escassos os empregos com vínculos minimamente estáveis” (Cano, 1995 apud Silva, 2008). “Paínho”, pedreiro, e “mãinha”, doméstica, trouxeram na bagagem muitas referências da cultura do sertão baiano, que foram acrescidas de outros elementos, o que deu a eles uma construção social ímpar posteriormente transmitida a mim e aos meus irmãos. Por morarem em um município dormitório, acordavam muito cedo para irem trabalhar em São Paulo e as rádios AM eram as companheiras e também os despertadores para não se perder a hora, já que as ondas de “amplitudes moduladas” eram (e continuam sendo) a frequência que acessa os esquecidos às margens (Bertolotto, 2018). Havia dias em que toda a família acordava ao som de samba. Outros em que a trilha sonora era música sertaneja. Às vezes, um mix dos mais variados estilos.

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DOI: 10.5151/9786555503265-04

Referências bibliográficas
  • TROTTA, F. Samba e mercado de música nos anos 1990. Tese (Programa de Pós-Graduação
  • em Comunicação) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
  • VELOSO, C. Sampa. In: Muito. São Paulo: Philips,1978. Faixa 2. Lado B. 1. Vinil.
  • VISÃO DE RUA; RZO. Amor e ódio. In: A noiva do Thock. São Paulo: Rhythm & Blues Records,
  • 2004. Faixa 3. 1. CD.
Como citar:

TRINDADE, Karina de Souza; "Royal Dansk: o biscoito da lata azul bonita e a metalinguagem da linha abissal", p. 56-63. Conhecimento para quê? Conhecimento para quem?. São Paulo: Blucher, 2024.
ISBN: 9786555503265, DOI 10.5151/9786555503265-04