(Re)Discutindo Sexo/Gênero na Sociolinguística

Freitag, Raquel Meister Ko.;

Resumo:

A Sociolinguística Variacionista se constituiu como campo de pesquisa na década de 1960, com o objetivo de desvelar a covariação entre língua e sociedade. Uma das categorias controladas para averiguar esta covariação é a do sexo; os primeiros estudos apontaram a preferência das mulheres por variantes linguísticas com maior prestígio, assim como a maior sensibilidade feminina ao prestígio social das formas linguísticas. Daí decorre que mulheres tendem a liderar processos de mudança linguística que envolvem variantes prestigiadas, e assumem uma atitude conservadora quando as variantes são socialmente desprestigiadas (homens tendem a liderar a mudança, nesse caso). Mas se a Sociolinguística tem como premissa, em tendência ampla, o estudo da relação entre língua e sociedade, precisa considerar que a sociedade muda; se a sociedade muda, as explicações do modelo teórico-metodológico deveriam, também, mudar: a explicação de as mulheres preferirem as formas padrão ou não estigmatizadas, por conta de seu papel como mães e educadoras, talvez fosse válida e pertinente nos anos 1960; hoje, não se pode dizer que é este o papel das mulheres na sociedade.

Capítulo:

Palavras-chave: ,

DOI: 10.5151/9788580391213-0001

Referências bibliográficas
  • AEBISCHER, Verena; FOREL, Claire. Falas masculinas, falas femininas. São Paulo: Brasi1iense, 1991.
    BAILEY, Guy; TILLERY, Jan. Some sources of divergent data in sociolinguistics. In: FOUGHT, Carmem. Sociolinguistic variation: critical reflections. New York: Oxford University, 2004, p. 11-30.
    BARROZO, Thais Aranda; AGULLERA, Vanderci de Andrade. Sexo e linguagem: uma análise a partir das sabatinas dos ministros do supremo tribunal federal Joaquim Barbosa e Rosa Weber. Revista da ABRALIN, v. 13, n. 1, p. 13-38, 2014.
    BENÇAL, Dayme Rosane; DE ALMEIDA BARONAS, Joyce Elaine; SEMCZUK, Wéllem Aparecida Freitas. A variação estilística na fala dos moradores castrenses e londrinenses: em busca do diminutivo–inho. Entretextos, v. 13, n. 1, p. 334- 352, 2013.
    BRANDÃO, Silvia Figueiredo. /S/em coda de sílaba interna à luz da geo e da sociolinguística. Signum: Estudos da Linguagem, v. 12, n. 1, p. 103-122, 2009.
    BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas de gênero – uma análise do censo demográfico de 2010. Série Estudos e Pesquisas – Informação Demográfica e Socioeconômica, vol. 33. Rio de Janeiro, 2014.
    BRUSTOLIN, Ana Kelly Borba da Silva. Itinerário do uso e variação de nós e a gente em textos escritos e orais de alunos do Ensino Fundamental da Rede Pública de Florianópolis. Diadorim, v. 8, n.1, p. 351-374, 2012.
    BUTLER, Judith. Gender trouble and the subversion of identity. Nova York/Londres: Routledge, 1990.
    CALVET, Louis-Jean. Sociolinguística: uma introdução crítica. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.
    CAMBRAIA, César Nardelli; ARAÚJO, Leonardo Eustáquio Siqueira. Variação em locativos no português de Belo Horizonte: um estudo sociolingüístico. Paralelo, v. 20, p. 123-132, 2004.
    CAMERON, Deborah. Language: linguistic relativity: Benjamin Lee Whorf and the return of the repressed. Critical Quarterly, v. 41, n. 2, p. 153-156, 1999.
    CARMO, Márcia Cristina do; TENANI, Luciani Ester. As vogais médias pretônicas na variedade do noroeste paulista: uma análise sociolinguística. Alfa, v. 57, n. 2, p. 607-637, 2013.
    CHAMBERS, J. K. Sociolinguistic Theory. 2. ed. Oxford: Blackwell, 2003.
    CHESHIRE, Jenny. Linguistic variation and social function. In: COATES, Jennifer (ed.). Language and gender: a reader. Oxford: Blackwell, 1998, p. 29-41.
    COATES, Jennifer. Gender. In: LAMAS, Carmem; MULLANY, Louise; STOKWEEL, Peter. The Routhledge Companion of Sociolinguistics. Nova York: Francis & Taylor, 2006, p. 62-68.
    COSTA, Albertina de Oliveira. Revista Estudos Feministas: primeira fase, locação Rio de Janeiro. Revista Estudos Feministas, v. 12, n. 99, p. 205-210, 2004.
    COULTHARD, Malcolm. Linguagem e sexo. Ática, 1991.
    CYRINO, Rafaela. Trabalho, temporalidade e representações sociais de gênero: uma análise da articulação entre trabalho doméstico e assalariado. Sociologias, v. 11, n. 21, p. 66-92, 2009.
    DEUCHAR, Margaret. A pragmatic account of women’s use of standard speech. In: COATES, J.; CAMERON, D. (eds.) Women in their Speech Communities. London: Longman, 1988. p. 27-32.
    ECKERT, Penelope. The whole woman: Sex and gender differences in variation. Language Variation and Change, v. 1, n. 3, p. 245-267, 1989.
    ECKERT, Penelope. Three waves of variation study: the emergence of meaning in the study of sociolinguistic variation. Annual Review of Anthropology, n. 41, p. 87-100, 2012.
    ECKERT; Penelope; MCCONNELL-GINET, Sally. Comunidades de práticas: lugar onde co-habitam linguagem, gênero e poder. In: OSTERMANN, A. C.; FONTANA, B. Linguagem, sexo, sexualidade. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. [original de 1992]
    ECKERT, Penelope; MCCONNELL-GINET, Sally. Language and gender. Cambridge University Press, 2003.
    FERREIRA, Jesuelem Salvani; TENANI, Luciani Ester; GONÇALVES, Sebastião Carlos Leite. O morfema de gerúndio “ndo” no Português Brasileiro: análise fonológica e sociolinguística. Letras & Letras, v. 28, n. 1, p. 167-188, 2012.
    FISCHER, John L. Social influences on the choice of a linguistic variant. Word, v. 14, n. 1, p. 47-56, 1958.
    FRASER, Nancy. Mapeando a imaginação feminista: feminista: da redistribuição ao da redistribuição ao reconhecimento e à representação. Estudos Feministas, v. 15, n. 2, p. 291-308, 2007.
    FREITAG, Raquel Meister Ko. Banco de dados falares sergipanos. Working Papers em Linguística, v. 14, n. 2, p. 156-164, 2013.
    FREITAG, Raquel Meister Ko. O “social” da sociolinguística: o controle de fatores sociais. Diadorim, v. 8, n. 8, p. 43-58, 2012.
    FREITAG, Raquel Meister Ko. O controle dos efeitos estilísticos dos papéis sociopessoais e do sexo/gênero nas entrevistas sociolinguísticas. In: II Congresso Internacional de Dialetologia e Sociolinguística, 2012, Belém. Diversidade linguística e políticas de ensino: anais. São Luís: Editora da Universidade Federal do Maranhão, 2012. p. 289-296.
    FREITAG, Raquel Meister Ko.; MARTINS, Marco Antonio; TAVARES, Maria Alice. Bancos de dados sociolinguísticos do português brasileiro e os estudos de terceira onda: potencialidades e limitações. Alfa, v. 56, n. 3, p. 917-944, 2012.
    GILES, H. Accent mobility: a model and some data. Anthropological Linguistica, v.15, p. 87-105, 1973.
    HAGIWARA, Robert. Acoustic realizations of American/r/as produced by women and men. Phonetics Laboratory, Dept. of Linguistics, UCLA, 1995.
    HENRIQUE, Pedro Felipe de Lima; HORA, Dermeval da. Da fala à escrita: a monotongação de ditongos decrescentes na escrita de alunos do 3º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Letrônica, v. 6, n. 1, p. 108-121, 2013.
    HOLMES, Janet. Complimenting: A positive politeness strategy. In: COATES, Jennifer (ed.). Language and gender: a reader. Oxford: Blackwell, 1998, p. 100-120.
    HORA, Dermeval da. Vocalização da lateral/l: correlação entre restrições sociais e estruturais. Scripta, v. 9, p. 29-44, 2006.
    KANITZ, Andréia; BATTISTI, Elisa. Variação sociolinguística na fala-em-interação: análise quantitativa e qualitativa do uso variável de vibrante simples em lugar de múltipla no português brasileiro de bilíngues português-alemão. Letrônica, v. 6, n. 1, p. 3-25, 2013.
    KINSEY, Alfred Charles et al. Sexual behavior in the human male. 1948.
    LABOV, William. Principles of linguistic change: Social factors.Oxford: Blackwell, 2001.
    LABOV, William. Sociolinguistic patterns. Pennsylvania: University of Pennsylvania Press, 1972.
    LABOV, William. The intersection of sex and social class in the course of linguistic change. Language variation and change, v. 2, n. 02, p. 205-254, 1990.
    LAKOFF, Robin. Language and woman’s place. University of Michigan, Center for Advance Study in the Behavioral Sciences, 1972.
    LEITE, Cândida Mara Britto. Intersecção entre variação linguística dos róticos e a variável sexo. Estudos Linguísticos, v. 41, n. 2, p. 755-764, 2012.
    LORIATO, Sarah; PERES, Edenize Ponzo. Gênero e a realização do/r/em uma situação de contato linguístico. Entretextos, v. 13, n. 2, p.441-436, 2013.
    MENDES, Ronald. Diminutivos como marcadores de sexo/gênero. Linguística, v. 8, p. 113-124, 2012.
    MENON, Odete Pereira da Silva; LOREGIAN-PENKAL, Loremi; FAGUNDES, Edson Domingos. O que é que se faz com os resultados do VARBRUL?. Letrônica, v. 6, n. 1, p. 319-337, 2013.
    MILROY, Lesley. Language and social networks. Oxford: Blackwell, 1980.
    MOLLICA, Maria Cecília de Magalhães; RONCARATI, Cláudia Nívia. Questões teórico-descritivas em sociolingüística e em sociolingüística aplicada e uma proposta de agenda de trabalho. DELTA, v. 17, n. spe, p. 45-55, 2001.
    MOTA, Jacyra Andrade et al. Um estudo sociolinguístico sobre o apagamento de vogais finais em uma localidade rural da Bahia. Signum: Estudos da Linguagem, v. 15, n. 1, p. 311-334, 2012.
    MOTHES, Lígia, ROSA, Nara. Um olhar sobre a linguagem de adolescentes de classe socioeconómica privilegiada. Cadernos do Aplicação, v. 22, n. 1, p. 93- 111, 2009.
    NARVAZ, Martha Giudice; KOLLER, Sílvia Helena. Metodologias feministas e estudos de gênero: articulando pesquisa, clínica e política. Psicologia em Estudo, v. 11, n. 3, p. 647-654, 2006.
    NASCIMENTO, Katiene Rozy Santos do; DE ARAÚJO, Aluiza Alves; CARVALHO, Wilson Júnior Araujo de. A redução do gerúndio no falar popular de Fortaleza: um olhar variacionista. Veredas, v. 17, n.2, p. 398-413, 2013.
    OLVEIRA E SILVA, Gisele Machline. Coleta de dados. In: MOLLICA, Maria Cecília; BRAGA, Maria Luíza (orgs). Introdução à Sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2004, p. 117-133.
    OUSHIRO, Livia; MENDES, Ronald Beline. A pronúncia de (–r) em coda silábica no português paulistano. Revista do GEL, v. 8, n. 2, p. 66-95, 2011.
    PAIVA, Maria da Conceição. A variável gênero/sexo. In: MOLLICA, Maria Cecília; BRAGA, Maria Luíza (orgs). Introdução à Sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2004, p. 33-42.
    PAIVA, Maria da Conceição. Fatores Extralingüísticos: Sexo. In: MOLLICA, Maria Cecília (org.). Introdução à Sociolinguística variacionista. Cadernos Didáticos. Rio de Janeiro: UFRJ, 1992, p. 69-73.
    PIRES, Lisiane Buchholz. A palatalização das oclusivas dentais em São Borja. Revista Virtual de Estudos da Linguagem–ReVEL, v. especial, n. 1, p. 1-23, 2003.
    RICKFORD, John R.; MCNAIR-KNOX, Faye. Addressee-and topic-influenced style shift: A quantitative sociolinguistic study. In: BIBER, Douglas; FINEGAN, Edward (eds.) Sociolinguistic perspectives on register. Oxford: Oxford University Press, 1994, p. 235-276.
    RODRIGUES, Ana Germana Pontes; ARAÚJO, Aluiza Alves de. Tarra onde, menina réa? A aspiração de/v/no falar de Fortaleza. Revista de Estudos da Linguagem, v. 22, n. 2, p. 11-58, 2014.
    RODRIGUES, Ângela Cecília de Souza. Concordância verbal, sociolingüística e história do português brasileiro. Fórum Linguístico, v. 4, n. 1, p. 115-145, 2004.
    ROMAINE, Suzanne. Variation in Language and Gender. In: HOLMES, Janet;
    MEYERHOFF, Miriam. The Handbook of Language and Gender. Oxford: Blackwell, 2003, p. 69-97.
    RUBIO, Cássio Florêncio. Por uma definição da variante estigmatizada na concordância verbal no interior paulista: a atuação da variável gênero/sexo. Estudos Linguísticos, v. 36, n. 2, p. 380-388, 2007.
    RUMEU, Márcia Cristina de Brito. Uma breve incursão pela fala culta recifense: vogais médias pretônicas à luz da sociolinguística. Caligrama: Revista de Estudos Românicos, v. 17, n. 2, p. 7-30, 2012.
    SCHERRE, Maria Marta Pereira; RONCARATI, Claudia Nivea. Programa de Estudos sobre o Uso da Língua (PEUL): origens e trajetórias. Anthony Julius Naro e a linguística no Brasil: uma homenagem acadêmica. Rio de Janeiro, v. 7, p. 37-49, 2008.
    SCHERRE, Maria Marta Pereira; YACOVENCO, Lilian Coutinho. A variação linguística e o papel dos fatores sociais: o gênero do falante em foco. Revista da
    ABRALIN, v. 10, n. 3, p. 121-146, 2011.
    SILVA, Jorge Augusto Alves da. Concordância verbal e a variável “sexo” em três comunidades linguísticas do interior do Estado da Bahia. Estudos da Língua (gem), v. 10, n. 2, p. 207, 2012.
    SIQUEIRA, Maria Juracy Toneli. Sobre o trabalho das mulheres: contribuições segundo uma analítica de gênero. Psicologia, Organizações e Trabalho, v. 2, n. 1, p. 11-30, 2002.
    THORNE, Barrie; HENLEY, Nancy. Language and sex: difference and dominance. Massachussets: Newsbury House, 1975.
    TRUDGILL, Peter. Sex, covert prestige and linguistic change in the urban British English of Norwich. Language in society, v. 1, n. 02, p. 179-195, 1972.
    VITÓRIO, Elyne Giselle de Santana Lima Aguiar. Realizações do sujeito expletivo em construções com o verbo ter existencial na fala alagoana. Leitura, v. 1, n. 47, p. 177-191, 2011.
    WEST, Candace; ZIMMERMAN, Don H. Doing gender. Gender & society, v. 1, n. 2, p. 125-151, 1987.
Como citar:

FREITAG, Raquel Meister Ko.; "(Re)Discutindo Sexo/Gênero na Sociolinguística", p. 17 -74. In: Mulheres, Linguagem e Poder - Estudos de Gênero na Sociolinguística Brasileira. São Paulo: Blucher, 2015.
ISBN: 978-85-8039-121-3, DOI 10.5151/9788580391213-0001