Resumo:
Como grande visionária que foi, Simone de Beauvoir antecipou e preparou o terreno para o trabalho de uma geração posterior de teóricas feministas. Ao identificar claramente um viés masculinista que permeia todo o pensamento social ocidental – o grande e radical insight da sua obra (Bordo, 1997) – ela iniciou o que se pode considerar uma verdadeira virada epistemológica. A Simone de Beauvoir seguiriam-se várias gerações de intelectuais feministas e pensadores pós-estruturalistas, que apresentariam diversas formas de revisão da pretensa visão objetiva e universal de filósofos e cientistas da tradição ocidental e criariam as bases para uma nova discussão sobre a possibilidade de se pensar a partir da(s) alteridade(s).
Essa crítica epistemológica levanta duas questões relacionadas entre si, embora diferentes. Uma delas refere-se explicitamente ao discurso dos “grandes pensadores” (todos homens) da tradição ocidental sobre as mulheres e sobre “o feminino”; a outra, ao viés – ora mais óbvio, ora mais sutil – pelo qual uma perspectiva masculina ou masculinista se embute em todo o processo de produção cultural e científica. É especificamente em relação à primeira que Simone de Beauvoir e muitas outras autoras contemporâneas, como Teresa de Lauretis (1984) e Maria Rita Kehl (1998), trabalham na desconstrução do “eterno feminino” – que para elas deve ser compreendido como produto da subjetividade masculina, que constrói determinados protótipos de mulher compatíveis com os diversos tipos de projetos e práticas do imaginário masculino.
Como citar:
ADELMAN, Miriam; "Vozes diferentes: a emergência e a construção da teoria feminista contemporânea", p. 85-126. A Voz e a Escuta: Encontros e desencontros entre a teoria feminista e a sociologia contemporânea: Encontros e desencontros entre a teoria feminista e a sociologia contemporânea - Vol. 1. São Paulo: Blucher, 2016.
ISBN: 9788580391473, DOI 10.5151/9788580391473-03