(Re)Discutindo Sexo/Gênero na Sociolinguística

Freitag, Raquel Meister Ko.

Resumo:

A Sociolinguística Variacionista se constituiu como campo de pesquisa na década de 1960, com o objetivo de desvelar a covariação entre língua e sociedade. Uma das categorias controladas para averiguar esta covariação é a do sexo; os primeiros estudos apontaram a preferência das mulheres por variantes linguísticas com maior prestígio, assim como a maior sensibilidade feminina ao prestígio social das formas linguísticas. Daí decorre que mulheres tendem a liderar processos de mudança linguística que envolvem variantes prestigiadas, e assumem uma atitude conservadora quando as variantes são socialmente desprestigiadas (homens tendem a liderar a mudança, nesse caso). Mas se a Sociolinguística tem como premissa, em tendência ampla, o estudo da relação entre língua e sociedade, precisa considerar que a sociedade muda; se a sociedade muda, as explicações do modelo teórico-metodológico deveriam, também, mudar: a explicação de as mulheres preferirem as formas padrão ou não estigmatizadas, por conta de seu papel como mães e educadoras, talvez fosse válida e pertinente nos anos 1960; hoje, não se pode dizer que é este o papel das mulheres na sociedade.

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M, a, t, i, c, n, r, O, F

DOI: 10.5151/9788580391190-0001

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Como citar:

FREITAG, Raquel Meister Ko.; "(Re)Discutindo Sexo/Gênero na Sociolinguística", p. 17-74. Mulheres, linguagem e poder: estudos de gênero na sociolinguística brasileira. São Paulo: Blucher, 2015.
ISBN: 9788580391190, DOI 10.5151/9788580391190-0001