Que traçados faz o léxico do Nordeste?
CARDOSO, Suzana Alice Marcelino;
Resumo:
A língua define o seu espaço pelos traços que revela nos deferentes níveis de abordagem através dos quais pode ser observada. Tal sentimento de “individualidade” é percebido mesmo pelos não especialistas nos estudos linguísticos. Eis por que se ouvem, com frequência, frases como “Fulano fala diferente de nós”, “Ele chia quando fala, nós não”, “O R deles é bem diferente do de cá”, “Aqui se chama por outro nome”, e por aí vão os exemplos de manifestação do falante não especialista nos estudos da linguagem. E isso se dá, exatamente, porque: (i) o aspecto fônico, a maneira como se realizam os fonemas, atinge o ouvido do falante e o faz perceber o que distingue as elocuções em um grupo de pessoas — os que têm um R retroflexo e outros que não o têm, por exemplo; (ii) o léxico mostra de forma mais concreta as diferenças de uso que, muitas vezes, interferem na comunicação — querer comprar inhame e não o encontrar porque as placas só indicam a venda de cará, denominação vigente para a raiz, em São Paulo, em contraposição à maneira de identificá-la entre nós; (iii) a sintaxe, ao mostrar as diferenças, em certos casos, estratifica, qualificando os falantes em mais próximos ou mais afastados da norma linguística — a gente fomos ao lado de a gente foi. Desse modo, podemos falar de uma língua vinculada a uma região geográfica, por exemplo, o falar gaúcho, a língua amazônica, a língua do Nordeste, exatamente porque a variedade de usos que se registra, em cada canto, revela os traços fonéticos da área, as preferências lexicais e as maneiras de construção da informação nos seus variados modos de organização sintática, assegurando-lhe o caráter regional no uso da língua e a sua individualidade.
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DOI: 10.5151/9788580392395-01
Referências bibliográficas
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CARDOSO, Suzana Alice Marcelino Cardoso et al. Atlas linguístico do Brasil. v. 1.
Introdução. Londrina: EDUEL, 2014a.
CARDOSO, Suzana Alice Marcelino Cardoso et al. Atlas linguístico do Brasil. v. 2. Cartas linguísticas 1. Londrina: EDUEL, 2014b.
ISQUERDO, Aparecida Negri. Capitais brasileiras: um olhar para a história da cidade e a história do nome. In: CARDOSO, Suzana Alice Marcelino Cardoso et al. Atlas linguístico do Brasil. v. 2. Cartas linguísticas 1. Londrina: EDUEL, 2014b, p. 11-27.
Como citar:
CARDOSO, Suzana Alice Marcelino;
"Que traçados faz o léxico do Nordeste?",
p. 13 -26.
In:
Estudos sobre o Português do Nordeste: língua, lugar e sociedade.
São Paulo: Blucher, 2017.
ISBN: 9788580392395,
DOI 10.5151/9788580392395-01