O Papel da Psicolinguística Experimental no Desenvolvimento de Modelos Formal-cognitivos de Língua
KENEDY, Eduardo
Resumo:
As contribuições da psicolinguística experimental à linguística teórica já são hoje fartas. Diferentes teorias dentro da linguística reconhecem abertamente a experimentação como um tipo de ciência que pode fazer avançar a discussão sobre certos modelos abstratos, já que, com essa abordagem, pode-se tratar os dados disponíveis ao linguista de maneira objetiva, a partir de resultados públicos e mensuráveis que ensejam a replicação e podem ser usados em favor de certas hipóteses cujas previsões são de alguma forma abonadas por experimentos bem elaborados e corretamente conduzidos. Essa opção pela experimentação se vê mesmo fora do campo da linguística gerativa. Vale citar como exemplos Language, usage and cognition (BYBEE, 2010), Constructing a language (TOMASELLO, 2003) e Transitividade traço a traço (ABRAÇADO & KENEDY, 2013). Na linguística de orientação chomskiana, viu-se recentemente a iniciativa do “Experimental psyscholinguistics: formal approaches” (realizado na Unicamp, em 2010) e o notável número 18 da Revista Virtual de Estudos da Linguagem (ReVEL), de março de 2012, dedicado à sintaxe experimental – sem contar, é claro, o grande número de cursos e livros dedicados ao tema a cada ano ou semestre. A linguística experimental, como se vê, está na ordem do dia.
A aproximação entre a pesquisa experimental sobre a linguagem humana e os modelos abstratos que procuram descrever a competência linguística (no sentido de CHOMSKY, 1965) dos falantes de uma língua natural é por muitos estudiosos considerada natural e esperada – veja-se, por exemplo, Maia (2012), Sprouse e Almeida (2011), Sprouse (2007), Maia e Finger (2005) e Cowart (1997). No entanto, a dialética entre os estudos empíricos a respeito da performance linguística e os modelos abstratos acerca do conhecimento sobre a linguagem tem sido marcada por uma série de desentendimentos e cisões, que em muito prejudicam a desejada articulação entre a psicolinguística e linguística gerativa. O propósito deste artigo é descrever um pouco da história das últimas décadas, com o surgimento e o amadurecimento que se deram, de forma independente, na psicolinguística e na teoria linguística compreendida aqui como gerativismo ou formalismo. Pretende-se descrever e comentar os momentos de aproximação e distanciamento entre as áreas ao longo desses anos, de modo a encaminhar a exposição ao que se sustentará ser o amplo programa de trabalho em conjunto que emergiu mais recentemente com as propostas minimalistas (cf. CHOMSKY, 1995, 2001, 2002, 2007, 2011). Trata-se, na verdade, de uma história bem conhecida dos psicolinguistas, a qual se relata aqui pela necessidade de explicitá-la aos próprios gerativistas e a um público de linguistas mais amplo.
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DOI: 10.5151/9788580391824-08
Como citar:
KENEDY, Eduardo; "O Papel da Psicolinguística Experimental no Desenvolvimento de Modelos Formal-cognitivos de Língua", p. 189-202. Rumos da linguística brasileira no século XXI - Vol. 1. São Paulo: Blucher, 2016.
ISBN: 9788580391824, DOI 10.5151/9788580391824-08