Interação entre Sexo/Gênero e classe social no uso variável da concordância verbal
Oushiro, Livia
Resumo:
Numerosos estudos sociolinguísticos, que se basearam em amostras balanceadas quanto ao sexo/gênero do falante, verificaram uma relação recorrente entre essa variável social e diversos fenômenos de variação linguística: formas consideradas “padrão” ou “de prestígio” (como a realização velar de -ing em inglês, como em talking ‘falando’, ou a manutenção de /r/ em grupos consonantais em português, como em “proprietário”) tendem a ser favorecidas pelos falantes do sexo feminino, enquanto as variantes consideradas “não padrão” ou “estigmatizadas” (como a realização alveolar de –ing [in] ou a supressão de /r/ em “propietário”) tendem a ocorrer de maneira relativamente mais frequente na fala dos homens (ver, por exemplo, LABOV, 1990; 2001; CHAMBERS, 1995; CHESHIRE, 2002, PAIVA, 2004 e ROMAINE, 2003 para resenhas). Trudgill (1983:162) caracteriza tal correlação como a descoberta mais consistente dos estudos dialetais nas décadas de 1960 e 1970, e Nordberg (1971, apud ROMAINE, 2003) prevê que esse padrão seja ubíquo nas sociedades ocidentais.
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DOI: 10.5151/9788580391190-0006
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Como citar:
OUSHIRO, Livia; "Interação entre Sexo/Gênero e classe social no uso variável da concordância verbal", p. 151-168. Mulheres, linguagem e poder: estudos de gênero na sociolinguística brasileira. São Paulo: Blucher, 2015.
ISBN: 9788580391190, DOI 10.5151/9788580391190-0006