Entre a História e a Ciência: a constituição da historiografia da Linguística como área de pesquisa e ensino nos estudos sobre a linguagem

BASTOS, Neusa Barbosa ; BATISTA, Ronaldo de Oliveira

Resumo:

Apresentar a um público mais amplo a área que, desde o final da década de 1970, se identifica como Historiografia da Linguística (HL) é nosso mister neste capítulo que tem como objetivo principal delinear um campo que coloca como tarefa analisar períodos da história dos estudos sobre a linguagem em diferentes recortes temporais1. Ao apontar características e direcionamentos da perspectiva historiográfica sobre a ciência da linguagem, o texto coloca em discussão proposições de procedimentos metodológicos para o campo, além de mapear especificidades de uma historiografia da linguística brasileira, seus projetos e grupos de especialidade e também sua inserção na formação de docentes e pesquisadores na área de Letras.

Para direcionar a perspectiva adotada neste texto, lembramos as reflexões de Marc Bloch sobre o ofício do historiador (BLOCH, 2001), pois elas encontram paralelo na busca do historiógrafo da linguística Pierre Swiggers (1991) por definições e horizontes para a prática de historiografar os estudos sobre a linguagem. Se Bloch insistia na não transparência dos textos e dos documentos históricos, sendo necessário ultrapassar sua superfície para atingir a compreensão do que eles nos podem transmitir, Swiggers propõe uma arqueologia do saber linguístico a partir da imagem de um pesquisador que deve escavar nas camadas mais superficiais para atingir o que os documentos nos dizem além das aparências dos estados das coisas. O movimento é semelhante ao do arqueólogo, já que, como este, o historiógrafo não retira a “terra” em busca somente de vestígios por eles mesmos, mas afasta a poeira dos saberes solidificados em posicionamentos canonizados para compreender estágios de formação e desenvolvimento do conhecimento sobre a linguagem, tendo em mente interpretações que possam ampliar nossa percepção dos alcances do passado em relação com preocupações do presente, em um movimento contínuo de retroalimentação, e não de imediata causalidade ou implicação, caracterizando, assim, a atividade histórica como uma busca direcionada por interrogações e problematizações.

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DOI: 10.5151/9788580391824-03

Como citar:

BASTOS, Neusa Barbosa; BATISTA, Ronaldo de Oliveira; "Entre a História e a Ciência: a constituição da historiografia da Linguística como área de pesquisa e ensino nos estudos sobre a linguagem", p. 57-72. Rumos da linguística brasileira no século XXI - Vol. 1. São Paulo: Blucher, 2016.
ISBN: 9788580391824, DOI 10.5151/9788580391824-03