Ambiguidade estrutural e variação na concordância número-pessoa em clivadas canônicas no português brasileiro

MARTINS, Marco Antonio; MATOS, Francisco Iokleyton de Araujo;

Resumo:

Este capítulo tem uma motivação teórica e outra empírica. A motivação teórica se volta à defesa de estudos com interface entre a sociolinguística variacionista – ou a teoria da variação e mudança, que toma por objeto de estudo o fenômeno da variação linguística observada sob as lentes da noção de regra variável – e a teoria da gramática, que toma por objeto de estudo a competência do falante que sabe/fala uma língua natural. A motivação empírica deriva do contraste observado entre a possibilidade de concordância entre cópula e o SN clivado em sentenças clivadas canônicas no português brasileiro, atestada no par em (1), e a não possibilidade de variação em clivadas invertidas, como mostra o par em (2):(1a) Foi os meninos que chegaram.(1b) Foram os meninos que chegaram.2a) Os meninos foi que chegaram.(2b) *Os meninos foram que chegaram.Na literatura sobre esse fenômeno no português brasileiro (PB), existe um consenso de que a concordância número-pessoa entre cópula “ser” e o constituinte clivado é variável nas clivadas canônicas, mas não em clivadas invertidas, como mostram Guesser e Quarezemin (2013), sob uma perspectiva formal, e Braga e Barbosa (2009), sob uma abordagem funcional. Diante desse panorama de variação e, mais especificamente, de restrição de variação descrito na literatura no que se refere às sentenças clivadas no PB, discutimos neste capítulo, como a variação observada entre estruturas com e sem concordância nas clivadas canônicas – mas não nas clivadas invertidas – pode ser explorada no âmbito da teoria gerativa em interface com a sociolinguística laboviana, sob o escopo da noção de regra variável. Não apresentaremos aqui uma análise quantitativa dessas sentenças no PB, mas motivaremos uma discussão que tem por objetivo esclarecer como é possível explicar essa possibilidade – ou não – de variação utilizando a teoria gerativa e uma teoria da variação linguística. O estatuto teórico dessas construções no PB tomará por base o quadro formal já posto por muitos estudos (RIZZI, 1997; MIOTO; NEGRÃO, 2007; BELLETTI, 2012; GUESSER; QUAREZEMIN, 2013).

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DOI: 10.5151/9788580391466-03

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Como citar:

MARTINS, Marco Antonio; MATOS, Francisco Iokleyton de Araujo; "Ambiguidade estrutural e variação na concordância número-pessoa em clivadas canônicas no português brasileiro", p. 59 -78. In: Sociolinguística e Política Linguística: Olhares Contemporâneos. São Paulo: Blucher, 2016.
ISBN: 9788580391466, DOI 10.5151/9788580391466-03