Lugares de Godot

REYES, Paulo;

Resumo:

O ato de esperar não resigna: ele é apaixonado pelo êxito em lugar do fracasso. A espera, colocada acima do ato de temer, não é passiva como este, tampouco está trancafiada em um nada. O afeto da espera sai de si mesmo, ampliando as pessoas, em vez de estreitá-las: ele nem consegue saber o bastante sobre o que interiormente as faz dirigirem-se para um alvo, ou sobre o que exteriormente pode ser aliado a elas. A ação desse afeto requer pessoas que se lancem ativamente naquilo que vai se tornando e do qual elas próprias fazem parte (BLOCH, 13:2005).Ao dar início a esta escrita, tomo as palavras de Ernst Bloch para afirmar que projetar o território em uma perspectiva socialmente responsável é pensá-lo em uma perspectiva de espera, de esperança em um sonho comum, naquilo que nos é comum, mesmo que ainda-não-seja-consciente. Este texto posiciona a espera como um ato político que carrega em si uma função utópica necessária ao processo de projeto. O processo de projeto é a possibilidade de preparar essa espera que, neste texto, é metaforizado pela espera de Godot em Samuel Beckett.

0:

Palavras-chave: ,

DOI: 10.5151/9788580392661-27

Referências bibliográficas
  • AGAMBEN, G. O homem sem conteúdo. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. BECKETT, S. Esperando Godot. São Paulo: Abril, coleção Teatro Vivo, tradução de Flávio Rangel, 1976. BLOCH, E. O princípio esperança. Rio de Janeiro: EdUERJ, Contraponto, 2005. CRAGNOLINI, M. Pensar, tremer, desconstruir. In Dossiê Jacques Derrida, Revista Cult, n. 195, out. 2014. DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 2009. DERRIDA, J. Pensar em não ver: escritos sobre a arte do visível. Florianópolis: Editora da UFSC, 2012. HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. RANCIÈRE, J. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo: Editora 34, 2012. REYES, P. Projeto entre desígnio e desvio. Artigo apresentado no I Colóquio Internacional Arquitetura, Derrida e aproximações – querências-estâncias de Derrida, Pelotas, UFPel e UFRGS, 2015 (texto no prelo). SOLIS, D.; FUÃO, F. (Org.). Derrida e arquitetura. Rio de Janeiro: Editora UERJ, 2014.
Como citar:

REYES, Paulo; "Lugares de Godot", p. 349 -358. In: Ecovisões projetuais: pesquisas em design e sustentabilidade no Brasil. São Paulo: Blucher, 2017.
ISBN: 9788580392661, DOI 10.5151/9788580392661-27