Psicologia na saúde: sociopsicológica ou psicossocial?
PAIVA, Vera
Resumo:
Há um saber operante na prática que é fundamental para produzir sua renovação. Se desde a prática não nos dedicamos a teorizar, desperdiçamos o trabalho humano da reflexão. A inovação de práticas, técnicas e teorias implicadas na abordagem das dimensões sociais e psicossociais em processos saúde-doença, tema deste texto, foi fortemente estimulada pela emergência da epidemia da aids nos anos 1980 e pela resposta social construída no Brasil. A concepção brasileira do “modo psicossocial” na atenção ao sofrimento mental, produzida no bojo do movimento pela reforma sanitária dos anos 1980 que resultou na organização do Sistema Único de Saúde, como veremos, está entre os antecedentes mais importantes dessa inovação.
A primeira parte deste texto revisará criticamente a literatura sobre os usos e o sentido do termo psicossocial em periódicos brasileiros. Discutirei, então, como a perspectiva sobre o processo saúde-doença baseada nos direitos humanos e em análises da epidemia da aids no quadro da vulnerabilidade produziu uma vertente da psicologia social construcionista na saúde, que se define como psicossocial e em contraste com uma perspectiva sociopsicológica. Nessa vertente psicossocial, a noção de pessoa substitui a noção de “indivíduo biológico-comportamental”, que é o foco das práticas em psicologia da saúde nas abordagens que nomeamos de sociopsicológicas. A abordagem psicossocial, por outro lado, focalizará a compreensão da “intersubjetividade em cena” implicada em cenários socioculturais; nos encontros em serviços e programas de saúde, abordará as cenas cotidianas e a trajetória de cada pessoa, concebida como sujeito de discursos e de direitos.
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DOI: 10.5151/9788580392357-12
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Como citar:
PAIVA, Vera; "Psicologia na saúde: sociopsicológica ou psicossocial?", p. 167-192. A psicologia social e a questão do hífen - Vol. 1. São Paulo: Blucher, 2017.
ISBN: 9788580392357, DOI 10.5151/9788580392357-12