Resumo:

Tratamos de predicadores com verbo (semi-)suporte a partir de dados licenciados por construções metonímicas no Português, do Brasil e de Portugal. Focalizamos predicadores não composicionais que são recrutados como núcleos a estruturarem predicações pessoais (in)transitivas em textos do espaço discursivo digital. Analisamos dados de construções com noção semântica relacionada, próxima ou semelhante à associada ao predicador “abrir(-se)”, embora, a título de comparação, lancemos mão também de dados com referência a uma postura psicológica oposta (“fechar(-se)”). Todos envolvem alguma parte do corpo humano (dar ouvidos, abrir o coração). Descrevemos: quais partes do corpo são mais recrutadas para o slot de elemento não verbal, com quais verbos tais partes mais se compatibilizam e que sentidos podem ser ativados por meio dessas construções. Entendemos que elas têm algum grau de cristalização formal e semântica, mas exploramos o caráter regular dos (semi-)idiomatismos (resultantes de construcionalização lexical). Percebemos neles esquematicidade e até produtividade relativamente afins às de unidades construcionais gramaticais ordinariamente formadas com base em [Verbo suporte + Elemento não verbal] predicador verbal. Nossa meta é chamar a atenção para o trabalho com expressões que em geral não têm lugar no ensino de gramática de predicações, mas que têm proeminência no referencial funcional-construcionista.