Resumo:

O texto procura apresentar a cosmovisão indígena, a partir de pesquisa realizada sobre a relação que os Guarani mantêm com as florestas da Mata Atlântica e a importância que atribuem a essa relação e como ela se conecta com a formação e a conservação das florestas que habitam, em particular as que restaram no Vale do Rio Ribeira, região que abriga a parte mais importante do que ainda resta da Mata Atlântica em São Paulo. Nele se evidenciou que esse modo peculiar de se relacionar com as florestas constitui uma ontologia, cuja existência supõe a necessidade de se conservar as florestas e seus socioecossistemas, assim como suas relações ancestrais como parte integrante fundamental de seu território. Ressalta-se desse modo a diferença radical existente entre esse modo de ser, cujo espaço produzido é incompatível com o modo colonialista capitalista de se impor como força política econômica hegemônica universal. A não compreensão da radicalidade dessa diferença tem impedido um conhecimento mais aprofundado do modo de ser indígena com as florestas, os quais por meio de sua “cosmogenia” têm coproduzido e conservado a pujança das florestas tropicais que exibem até hoje; e, ao mesmo tempo, têm impedido uma reflexão mais rigorosa sobre a profunda ignorância do outro, manifestado por um modo de conhecimento que se supõe, apesar de suas evidentes limitações, como saber válido universal.