Resumo:

A Organização das Nações Unidas declarou a década de 2020 como a “Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável” com o intuito, entre outros, de aumentar e diversificar investimentos em ciência oceânica. Os oceanos ocupam grande parte da superfície terrestre, sendo o maior reservatório de água do planeta. A população mundial depende marcantemente, de forma direta ou indireta, dos serviços ecossistêmicos providos pelos oceanos. Dentre os serviços mais valiosos está a regulação do sistema climático. A Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico (do inglês Atlantic Meridional Overturnig Circulation – AMOC) é uma componente crucial do sistema climático que atua na distribuição de calor e trocas gasosas (por exemplo, de dióxido de carbono) com a atmosfera. Considerando a possibilidade de uma marcante redução/colapso da AMOC no futuro devido às mudanças climáticas, é de extrema relevância aprofundar o entendimento a respeito das possíveis consequências que uma redução/colapso dessa circulação teria sobre o sistema climático. Registros paleoclimáticos advindos de inúmeras regiões do planeta indicam que uma marcante redução/colapso da AMOC teve profundos reflexos no sistema climático. Tais reflexos envolvem impactos de escala global a local, como alterações significativas no ciclo do carbono, na temperatura superficial oceânica e no clima de regiões tropicais. Este trabalho visa destacar a importância de estudar eventos pretéritos de enfraquecimento da AMOC, tornando evidente que o aumento, diversificação e manutenção dos investimentos em ciência oceânica são de suma importância para o melhor enfrentamento das mudanças climáticas.