Teoria social e discursos sociológicos do “pós-68”

ADELMAN, Miriam;

Resumo:

Num texto de 1992, publicado no Brasil sob o título A identidade cultural na pós-modernidade, o jamaicano Stuart Hall – eminente representante dos estudos culturais – fala sobre três concepções de identidade ou de “sujeito” na teoria social ocidental. Cada uma delas, de fato, corresponde a um momento particular da história do pensamento da sociedade moderna e indica certas tendências no desenvolvimento desse pensamento. A primeira, o “sujeito do iluminismo”, seria aquele construído a partir da representação do novo “indivíduo burguês”, que tanto entusiasmou aos filósofos desde Descartes e aos teóricos do contrato social. Caracteriza-se pela forma que identifica “o homem” com a racionalidade, a livre vontade, a consciência de interesses próprios e a capacidade de agir “livremente” com base nesses mesmos interesses. Traduz-se também na construção de um novo ideal de pensamento científico, de busca de verdades objetivas e universais que devem permitir novos níveis de controle sobre a natureza e a vida social.Já a segunda concepção se afasta da noção abstrata do “homem universal” para a construção de uma visão mais histórica do ser humano: com Marx, o “homem” se torna o produto de relações históricas e sociais concretas, sendo que, para ele, a mesma noção de indivíduo é o “reflexo” ideológico destas relações na sua configuração especificamente burguesa. A terceira concepção, por sua vez, incorpora outros elementos que complexificam a noção da pessoa ou “sujeito”, numa mudança que desde Freud rompe com a concepção da “essência racional” do ser humano moderno (para Freud, sempre fomos e continuamos a ser principalmente seres do desejo). Pertence a essa terceira concepção a crítica feminista da parcialidade da visão masculinista que exila as caraterísticas e experiências associadas com o feminino do seu conceito de “homem” (sua falsa universalização) e a reconstrução, desde Beauvoir, da categoria de sujeito a partir das relações de gênero. Como Hall assinala, essa concepção incorpora hoje um profundo reconhecimento das diversas situações culturais, sociais e históricas – também entendidas como relações de poder – que constróem as “alteridades” e as diversas posições de sujeito, as quais não mais permitem a universalização de somente uma (a mais privilegiada ou qualquer outra) dessas posições.

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DOI: 10.5151/9788580391473-04

Como citar:

ADELMAN, Miriam; "Teoria social e discursos sociológicos do “pós-68”", p. 127 -180. In: A Voz e a Escuta: Encontros e desencontros entre a teoria feminista e a sociologia contemporânea. São Paulo: Blucher, 2016.
ISBN: 9788580391473, DOI 10.5151/9788580391473-04