Em terreno minado: incoerências e conflitos ideológicos nos dizeres científicos e midiáticos sobre a norma do português brasileiro

SILVEIRA, Alexandre Cohn da; LEVISKI, Charlott Eloize; SILVA, Julia Izabelle da; SEVERO, Cristine Gorski;

Resumo:

Embora as pesquisas sociolinguísticas no Brasil já tenham percorrido um caminho longo e deixado relevante legado para a área, há ainda muito a ser feito, sobretudo no que tange a um maior diálogo com as práticas educacionais e políticas de ensino de língua materna. No entanto, a consolidação de uma real interface entre a Sociolinguística e o ensino perpassa um problema que não é apenas conceitual, mas, sobretudo, político: a questão da norma. Longe de ser um terreno exclusivo de linguistas e gramáticos normativistas, o assunto da norma linguística ultrapassa os muros da academia e ganha sentidos e nuances diferenciados, em variadas instâncias e dizeres sociais. As relações de poder inscritas nos diversos espaços sociais – sobretudo os espaços institucionalizados e as mídias de massa – não apenas são constituídas por aquilo que Milroy (2011) chamou da ideologia ou cultura da língua padrão, como também cumprem um importante papel em constituir e legitimar tal ideologia.Dessa forma, retomar a discussão sobre o conceito de norma apresentado pela Linguística, bem como estabelecer diálogos com outros saberes e dizeres, científicos ou não, pode trazer reflexões e contribuições para os rumos pretendidos pela pesquisa sociolinguística, avançando no enfrentamento dos desafios políticos que o ensino de língua materna impõe. Tendo isso em vista, problematizamos neste capítulo o conceito de norma da língua portuguesa brasileira, lançando, para isso, um olhar reflexivo sobre o Projeto da Norma Urabana Oral Culta (NURC) e o discurso da mídia. Nosso objetivo centra-se, portanto, tanto na ampliação dos estudos que revelam as incoerências e flutuações que existem sobre o conceito da norma no âmbito das teorias linguísticas, como na exploração dos discursos científicos e não científicos que circulam socialmente e que contribuem para a legitimação e continuidade da hegemonia da norma.

0:

Palavras-chave: ,

DOI: 10.5151/9788580391466-10

Referências bibliográficas
  • BAGNO, M. A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. São Paulo: Parábola, 2003.
    ______. Polêmica ou ignorância? 2011. Disponível em: . Acesso em: 25 maio 2015.
    ______. Variação, avaliação e mídia: o caso do Enem. In: ZILLES, A. M. S.; FARACO, C. A. (Org.). Pedagogia da variação linguística: língua, diversidade e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2015. p. 191-30.
    BIZZOCCHI, A. Quando a ciência vira alquimia. Revista Língua Portuguesa, São Paulo, v. 9, n. 113, p. 60-61, março de 2015.
    BOSI, A. Ideologia e contraideologia: temas e variações. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
    CASTILHO, A. T. DE. Uma política linguística para o português. 2010. Disponível em: . Acesso em: 28 maio 2015.
    COSERIU, E. Sistema, norma y habla. Montevideo: Universidad de la Republica, 1952.
    FARACO, C. A. Polêmica vazia, (2001). Disponível em: . Acesso em: 28 maio 2015.
    ______. Norma-padrão brasileira: desembaraçando alguns nós. In: BAGNO, M. (Org.). Linguística da norma. São Paulo: Loyola, 2002. p. 35-56.
    ______. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
    ______. Norma culta brasileira: construção e ensino. In: ZILLES, A. M. S.; FARACO, C. A. (Org.). Pedagogia da variação linguística: língua, diversidade e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2015. p. 15-30.
    FREITAG, R. M. K. Prova de redação do Enem: divergências entre as orientações para a prática e as diretrizes de avaliação. Interdisciplinar, Aracaju, v. IX, v. 20, 2014, p. 61-72.
    FREITAG, R. M. K; GÖRSKI, E. M. O papel da Sociolinguística na formação dos professores de língua portuguesa como língua materna. In: TAVARES, M. A.; MARTINS, M. A. (Org.). Contribuições da Sociolinguística e da Linguística Histórica para o ensino de língua portuguesa. Coleção Ciências da Linguagem Aplicadas ao Ensino, volume V. Natal: EDUFRN, 2013. p. 13-52.
    GASPARI, E. A ditadura escancarada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
    GLOBO, O. Acadêmicos atacam “doutrinação” do Enem. Disponível em: . Acesso em: 15 maio 2015.
    KONDER, L. A questão da ideologia. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
    LUCCHESI, D. Norma linguística e realidade social. In: BAGNO, M. (Org.). Linguística da norma. São Paulo: Loyola, 2002. p. 63-90.
    MILROY, J. Ideologias linguísticas e as consequências da padronização. In: LAGARES, X.; BAGNO, M. (Org.). Políticas da norma e conflitos linguísticos. São Paulo: Parábola, 2011. p. 49-87.
    MORAES NETO, J. R. Enem e nem tanto. In: O Globo. Disponível em: . Acesso em: 15 maio 2015.
    NETO, L. Enem faz a mesma pergunta oito vezes. In: O Globo. Disponível em: . Acesso em: 15 maio 2015.
    OLIVEIRA, G. M. DE. Brasileiro fala português: monolinguismo e preconceito linguístico. In: MOURA, H. M. DE; SILVA, F. L. DE (Org.). O direito à fala: a questão do preconceito linguístico. Florianópolis: Editora Insular, 2000.
    PAGOTTO, E. G. Norma e condescendência: línguas instrumentos linguísticos. Campinas: Pontes, 1999. p. 49-68.
    PINTO, E. P. (Org.). O Português do Brasil: textos críticos e teóricos – 1820/1920. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978.
    POSSENTI, S. Aceitam tudo. [S.l.: s.n.], 2009. Disponível em: . Acesso em 25 maio 2015.
    ______. Especialistas? Rio de Janeiro: Instituto Ciência Hoje, 2009. Disponível em: . Acesso em: 27 abr. 2015.
    RAJAGOPALAN, K. O conceito de identidade em Lingüística: é chegada a hora para uma reconsideração radical? Tradução de Almiro Pisetta. In: SIGNORINI, I. (Org.). Língua(gem) e Identidade. Campinas: Mercado das Letras; São Paulo: Fapesp, 1998. p. 21-45.
    ______. A construção de identidades e a política de representação. In: FERREIRA, L. M. A.; ORRICO, E. G. D. (Org.). Linguagem, identidade e memória social. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. p. 77-87.
    SIGNORINI, I. Por uma teoria da desregulamentação linguística. In: BAGNO, M. (Org.). Linguística da norma. São Paulo: Loyola, 2002. p.85-114.
    SILVA, L. A. DE. Projeto NURC: Histórico. Linha D´água, São Paulo, n. 10, p. 83-99, jul. 1996.
Como citar:

SILVEIRA, Alexandre Cohn da; LEVISKI, Charlott Eloize; SILVA, Julia Izabelle da; SEVERO, Cristine Gorski; "Em terreno minado: incoerências e conflitos ideológicos nos dizeres científicos e midiáticos sobre a norma do português brasileiro", p. 205 -224. In: Sociolinguística e Política Linguística: Olhares Contemporâneos. São Paulo: Blucher, 2016.
ISBN: 9788580391466, DOI 10.5151/9788580391466-10