Os desafios para o design no âmbito social e as perspectivas futuras: o conceito de infraestruturação e a redefinição do papel do designer

DEL GAUDIO, Chiara;

Resumo:

Desde os anos 1970, vem se discutindo a aplicação de competências de design no âmbito social (ver, por exemplo, Cross, 1972 e Bicknell e Mcquiston, 1977). O debate passou por fases de maior ou menor intensidade, tomou várias formas, e diferentes caminhos foram apontados. Nesse sentido, observa-se que, nos últimos 15 anos, o interesse neste assunto tem ganhado força. Entre as diferentes motivações lembra-se aqui: a ampliação do objeto de projeto para âmbitos diferentes dos mais tradicionais e a compreensão do designer como construtor de sentidos (KRIPPENDORFF, 1989) e ator crítico na sociedade. Estas estão na base da construção de um entendimento mais amplo das possibilidades de ação do designer no âmbito social. Manzini (2015) afirma que no âmbito social a ação do designer pode estar relacionada tanto à melhoria de problemáticas sociais relevantes não solucionadas pelo Estado nem pelo mercado, quanto a mudanças na organização social em uma perspectiva de sustentabilidade e resiliência (MANZINI; TILL, 2015). Estes dois vieses de atuação se baseiam em um diferente entendimento da palavra “social”, mas, de acordo com o autor, acabam se sobrepondo sempre mais. De fato, atualmente é difícil imaginar uma prática de design deste tipo cujas ações e resultados não considerem e afetem em ambas as direções. Estas múltiplas possibilidades têm sido divulgadas e têm obtido amplo sucesso entre numerosos designers e pesquisadores em design (EMILSON; SERAVALLI; HILLGREEN; 2011). Diferentes fatos participaram deste processo, por exemplo: 66 Ecovisões projetuais: pesquisas em design e sustentabilidade no Brasil o desenvolvimento e a divulgação de abordagens e ferramentas para suportar a ação social do designer; a iniciativa de numerosos centros de ensino em design de introduzir nos próprios currículos disciplinas formativas para uma pratica de design social; e a organização de eventos e debates por parte de membros da comunidade do design. A este cenário otimista sobre uma prática de design social, porém, opõe-se outro, menos positivo, constituído por reflexões provocadas pelas problemáticas emersas até então do desenvolvimento de projetos neste âmbito (HARRISON,2010; EMILSON; SERAVALLI; HILLGREEN; 2011; HUSSAIN; SANDERS; STEINERT, 2012). Com efeito, no meio do descrito entusiasmo geral, algumas vozes têm levantado os desafios encontrados no desenvolvimento destes projetos que a disciplina do design precisa enfrentar e solucionar para atuar neste âmbito (ARMSTRONG et al., 2014); os principais limites dos projetos desenvolvidos (MULGAN, 2014); e, por consequência, a falta de um olhar crítico pela comunidade do design com relação às potencialidades dos profissionais e das ferramentas no âmbito social.

0:

Palavras-chave: ,

DOI: 10.5151/9788580392661-06

Referências bibliográficas
  • AMATULLO, M. The most wicked problem of all: implementation. Design for All, p. 30-31, 2014. ARMSTRONG, L.; BAILEY, J.; JULIER, G.; KIMBELL, L. Social Design Futures. HEI Research and the AHRC. University of Brighton, London. 2014. Disponível em: . Acesso em: 27 dez. 2014. AUSTRALIAN CENTRE FOR SOCIAL INNOVATION. Co-designing Thriving Solutions. 2011. Disponível em: . Acesso em: 27 dez. 2014. BICKNELL, J.; MCQUISTON, L. (Ed.). Design for need: the social contribution of design. An anthology of papers presented to the Symposium at the Royal College of art. Londres: Pergamon Press, 1976. BJÖRGVISSON, E.; EHN, P.; HILLGREN, P.A. Design Things and Design Thinking: Contemporary Participatory Design Challenges. Design Issues, v. 28, n. 3, 2012. BOSSEN, C.; DINDLER, C.; IVERSEN, O.S. User gains and PD aims: assessment from a participatory design project. In: PARTICIPATORY DESIGN CONFERENCE, 11, 2010, Sydney, Australia. Proceedings… Sydney: ACM Press, 2010. p. 141-150. BOSSEN, C.; DINDLER, C.; IVERSEN, O. S. Impediments to user gains: experiences from a critical participatory design project. In: PARTICIPATORY DESIGN CONFERENCE, 12, 2012, Roskilde, Denmark. Proceedings… Roskilde: ACM Press, 2012. p. 31-40. BØDKER, S. Creating conditions for participation: Conflicts and resources in systems development. Human-Computer Interaction, n. 11, p. 215-236, 1996. CARROLL, J. M.; ROSSON, M. B. Participatory Design in Community Informatics. Design Studies, v. 28, p. 243-26, 2007. CROSS, N. Design participation. London: Academy Editions, 1972. DINDLER, C.; IVERSEN, O. S., Relational expertise in participatory design. In: PARTICIPATORY DESIGN CONFERENCE, 14, 2014, Windhoek, Namibia. Proceedings… Windhoek: ACM Press, 2014. p. 41-50. DISALVO, C. Design, democracy and agonistic pluralism. In: DESIGN RESEARCH SOCIETY INTERNATIONAL CONFERENCE, 2010, Université de Montréal, Montreal, Canada. DRS Proceedings… Design & Complexity, Montreal: Université de Montréal, 2010. DISALVO, C. Adversarial design. Cambridge, MA: MIT Press, 2012. DISALVO, C.; CLEMENT, A.; PIPEK, V. Communities: Participatory Design for, with and by communities. In SIMONSEN, J.; ROBERTSON, T. (Ed.). Routledge International Handbook of Participatory Design. London: Routledge, 2013. EMILSON, A.; SERAVALLI, A.; HILLGREEN, P-A. Dealing with dilemmas: Participatory approaches in Design for Social Innovation. Swedish Design Research Journal, v. 1, p. 23-29, 2011. ENGINE. Social Innovation Lab for Kent Method Deck. 2007. Disponível em: . Acesso em: 22 jan. 2015. FORLANO, L.; ANIJO, M. Designing Policy Toolkit. 2013. Disponível em: . Acesso em: 22 jan. 2014. FROG. Frog collective action toolkit. Groups make change. Frog, jan. 2013. Disponível em: . Acesso em: 23 dez. 2013. GARTNER, J.; WAGNER, I. Mapping actors and agendas: Political frameworks of systems design and participation. Human-Computer Interaction, v. 11, n. 3, p. 187-214, 1996. HARRISON, Z. Design, A Viable Tool for Social Innovation? An interview with William Drenttel of Winterhouse. Center for Cross-Cultural Design, 16 set. 2010. Disponível em: . Acesso em: 26 dez. 2014. HILLGREN, P.-A.; SERAVALLI, A.; EMILSON, A. Prototyping and infrastructuring in design for social innovation. CoDesign, v. 7, n. 3-4, p. 169-183, 2011. HUSSAIN, S.; SANDERS, E. B.-N.; STEINERT, M. Participatory design with marginalized people in developing countries: Challenges and opportunities experienced in a field study in Cambodia. International Journal of Design, v. 6, n. 2, p. 91-109, 2012. IDEO. Design for Social Impact. 2008. Disponível em: . Acesso em: 22 jan. 2015. ______. Human-centered Design toolkit. A free innovation guide for social enterprises and NGOs worldwide. 2009. Disponível em: . Acesso em: 23 dez. 2013. KIMBELL, L.; JULIER, J. The Social Design Methods Menu. In Perpetual Beta. 2012. Disponível em: . Acesso em: 23 dez. 2013. KRIPPENDORFF, K. On the Essential Contexts of Artifacts or on the Proposition That “Design Is Making Sens (of Things)”. Design Issue, v. 5, n. 2, p. 9-38, 1989. LIGHT, A.; AKAMA, Y. The Human Touch: participatory practice and the role of facilitation in designing with communities. In: PARTICIPATORY DESIGN CONFERENCE, 12, 2012, Roskilde, Denmark. Proceedings… Roskilde: ACM Press, 2012. p. 61-70. LOCKTON, D. Design with Intent. 2010. Disponível em: Acesso em: 22 jan. 2015. MANZINI, E. Design, When Everybody Designs. Cambridge, MA: MIT Press, 2015. MANZINI, E.; STASZOWSKI, E. Public and Collaborative. Exploring the intersection of design, social innovation and public policy. DESIS Network (2013) [online]. Disponível em: Acesso em: 13 mar. 2015. MANZINI, E.; TILL, J. (Ed.). The cultures of resilience base text. In Cultures of Resilience. Ideas. A Project from across the University of the Arts London. London: Hato Press, 2015. p. 11-13. MINDLAB. Methods Cards. 2010. Disponível em: Acesso em: 19 nov. 2013. MOUFFE, C. The return of the political. London: Verso, 1993. ______. The democratic paradox. London: Verso, 2000. MULGAN, G. Strengths, weaknesses and a way forward? [on-line]. Social Innovation Exchange. 2009. Disponível em: . Acesso em: 26 jan. 2011. ______. Social Innovation: What is it, why it matters and how it can be accelerated, Said Business School, Oxford. 2012. No prelo. ______. Design in public and social innovation. What works and what could work better. NESTA, London, 2014. Disponível em: . Acesso em: 26 dez. 2014. RIZZO, F. Strategie di co-design. Teorie, metodi e strumenti per progettare con gli utenti. Milano: Francoangeli, 2009. SANDERS, E. B.; STAPPERS, P. J. Convivial Toolbox: Generative Research for the Front End of Design. Amsterdam: BIS, 2013. SCHULMAN, S. Design thinking is not enough. 2010. Disponível em: Acesso em: 27 jan. 2011. SUCHMAN, L. Located accountabilities in technology production. Scandinavian Journal of Information Systems, Special Issue on Ethnography and Intervention, v. 14, n. 2, p. 91-105,2002. THINKPUBLIC; NESTA. Prototyping Framework. 2011. Disponível em: . Acesso em: 22 jan. 2015. WINSCHIERS-THEOPHILUS, H.; BIDWELL, N. J.; BLAKE, E. Design beyond participation. Design Issues, v. 28, n. 3, p. 89-100, 2012. YOUNG FOUNDATION. Social Business Model Canvas. 2012. Disponível em: . Acesso em: 23 dez. 2013.
Como citar:

DEL GAUDIO, Chiara; "Os desafios para o design no âmbito social e as perspectivas futuras: o conceito de infraestruturação e a redefinição do papel do designer", p. 65 -80. In: Ecovisões projetuais: pesquisas em design e sustentabilidade no Brasil. São Paulo: Blucher, 2017.
ISBN: 9788580392661, DOI 10.5151/9788580392661-06